terça-feira, 7 de abril de 2020

Por que não acreditamos na CIÊNCIA e nos CIENTISTAS?

Nestes tempos de Covid-19, uma das perguntas que não quer se calar é: Por que não acreditamos na Ciência e nos Cientistas? Já faz um bom tempo que o movimento anti-vacina só aumenta. A quantidade de pessoas que deixam de vacinar seus filhos contra o sarampo em determinados países é tanta, que ocorreram surtos desta terrível doença. Enquanto a Covid-19 tem uma letalidade de 2%, o sarampo tem letalidade de 15%.

O movimento de desacreditar a Ciência e os Cientistas é mundial. E muitos governos tratam universidades e cientistas como inimigos. O mais estranho é que todos (inclusive presidentes) querem um remédio ou vacina para a Covid-19 e o que o Brasil faz: corta financiamento para pesquisas. E esta diminuição de recursos já vem acontecendo desde 2014: três governos de partidos políticos diferentes.

Por outro lado, não basta simplesmente investir em pesquisa se os cientistas, as universidades, os centros de pesquisas não souberem conversar com a sociedade. Não adianta formar professores de ciências, física, química e biologia se eles não compreendem o método científico. Faz anos que, em uma apresentação, mostro uma sequência de slides do Garfield na praia, sentado em sua cadeira, que está de frente para mar. No primeiro slide, o Garfield vai para a praia às 6h (difícil acreditar). Ele passa o dia inteiro na praia. No segundo slide, já são meio dia e pergunto: “Aonde está o sol”. Todos dizem “em cima”. E no último slide, às 18h, pergunto: “Aonde está o sol” e todos respondem “Atrás do Garfield”. Aí vem a pergunta: “Quem se moveu?” Pasmem, mas ouço que foi o Sol. Pior que isso, é o silêncio ensurdecedor da sala. A sociedade não conhece as instituições de pesquisa e seus cientistas: 87% dos entrevistados não souberem dizer o nome de uma instituição de pesquisa e 93% não souberem dizer um nome de um cientista brasileiro. Veja documento do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos em https://www.cgee.org.br/documents/10182/734063/percepcao_web.pdf.



Por isso, desde 2003, venho me dedicando à divulgação científica. Não é fácil, mas é gratificante. Não é fácil, porque divulgação científica não é valorizada no meio acadêmico. Como disse anteriormente, desde 2014, os cortes em Ciência vêm ocorrendo e, somente, em 2019 houve maior mobilização das universidades para levarem o conhecimento científico para as pessoas, de um modo geral. Nos cursos de pós-graduação ainda se supervalorizam artigos científicos, que serão lidos, por não mais que uma centena de pesquisadores. É muito comum estudantes e orientadores começarem uma conversa assim: “publiquei um artigo científico em uma revista com fator de impacto 8”. 




Estes livros de divulgação científica podem ser baixados em PDF em: https://www.lhcan.com/

Escrever sobre Ciência para o público não-especializado é um grande desafio. Por isso, quem quer, realmente, fazer divulgação científica tem de ter algum suporte por parte das instituições de pesquisa. Se quiserem saber mais da importância da divulgação científica, leia o artigo completo de Herton Escobar (um dos melhores divulgadores científicos do Brasil) em: http://www.comciencia.br/divulgacao-cientifica-faca-agora-ou-cale-se-para-sempre/

Senão investirmos em CIÊNCIA, senão investirmos em CONSCIENTIZAÇÂO, senão investirmos em EDUCAÇÃO, será muito difícil sobreviver. As pessoas já têm resistência em mudar seus comportamentos e se temos figuras públicas que desprezam os avanços científicos, que atacam universidades e institutos de pesquisa e acreditam que a Covid-19 é uma fantasia, que a terra é plana e que não há desmatamentos, o que o cidadão comum pensa? É óbvio que pensará que não tem problema.

Além disso, temos um problema de EDUCACIONAL, pois nossos professores são pouco valorizados e malformados. Não basta mudar os hábitos agora. Faz-se necessário um esforço contínuo e isto só é possível no ambiente escolar. Hoje, sofremos com baixa adesão às campanhas de vacinação e o sarampo tem uma letalidade muito maior que a Covid-19. Ainda há tempo, mas a sociedade precisa estar unida, apoiando investimento em CIÊNCIA E EDUCAÇÃO e valorizar CIENTISTAS e PROFESSORES, que devem dialogar mais a sociedade.

Visite também: a página SapoCiência no Facebook (https://www.facebook.com/sapociencia/) e Instagram e o site do Laboratório de Herpetologia e Comportamento Anima (LHCAN) (https://www.lhcan.com/)




Texto: Rogério Pereira Bastos
Laboratório de Herpetologia e Comportamento Animal
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás
Contato: rogerioiscinax@gmail.com

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