Nestes tempos de Covid-19, uma das perguntas que
não quer se calar é: Por que não acreditamos na Ciência e nos Cientistas? Já
faz um bom tempo que o movimento anti-vacina só aumenta. A quantidade de
pessoas que deixam de vacinar seus filhos contra o sarampo em determinados
países é tanta, que ocorreram surtos desta terrível doença. Enquanto a Covid-19
tem uma letalidade de 2%, o sarampo tem letalidade de 15%.
O movimento de desacreditar a Ciência e os
Cientistas é mundial. E muitos governos tratam universidades e cientistas como
inimigos. O mais estranho é que todos (inclusive presidentes) querem um remédio
ou vacina para a Covid-19 e o que o Brasil faz: corta financiamento para
pesquisas. E esta diminuição de recursos já vem acontecendo desde 2014: três
governos de partidos políticos diferentes.
Por outro lado, não basta simplesmente investir
em pesquisa se os cientistas, as universidades, os centros de pesquisas não
souberem conversar com a sociedade. Não adianta formar professores de ciências,
física, química e biologia se eles não compreendem o método científico. Faz
anos que, em uma apresentação, mostro uma sequência de slides do Garfield na
praia, sentado em sua cadeira, que está de frente para mar. No primeiro slide,
o Garfield vai para a praia às 6h (difícil acreditar). Ele passa o dia inteiro
na praia. No segundo slide, já são meio dia e pergunto: “Aonde está o
sol”. Todos dizem “em cima”. E no último slide, às 18h, pergunto: “Aonde está o
sol” e todos respondem “Atrás do Garfield”. Aí vem a pergunta: “Quem se moveu?”
Pasmem, mas ouço que foi o Sol. Pior que isso, é o silêncio ensurdecedor da
sala. A sociedade não conhece as instituições de pesquisa e seus cientistas:
87% dos entrevistados não souberem dizer o nome de uma instituição de pesquisa
e 93% não souberem dizer um nome de um cientista brasileiro. Veja documento do Centro
de Gestão e Estudos Estratégicos em https://www.cgee.org.br/documents/10182/734063/percepcao_web.pdf.
Por isso, desde 2003, venho me dedicando à divulgação científica. Não é fácil, mas é gratificante. Não é fácil, porque divulgação científica não é valorizada no meio acadêmico. Como disse anteriormente, desde 2014, os cortes em Ciência vêm ocorrendo e, somente, em 2019 houve maior mobilização das universidades para levarem o conhecimento científico para as pessoas, de um modo geral. Nos cursos de pós-graduação ainda se supervalorizam artigos científicos, que serão lidos, por não mais que uma centena de pesquisadores. É muito comum estudantes e orientadores começarem uma conversa assim: “publiquei um artigo científico em uma revista com fator de impacto 8”.
Estes livros de
divulgação científica podem ser baixados em PDF em: https://www.lhcan.com/
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Senão investirmos em CIÊNCIA, senão investirmos
em CONSCIENTIZAÇÂO, senão investirmos em EDUCAÇÃO, será muito difícil
sobreviver. As pessoas já têm resistência em mudar seus comportamentos e se
temos figuras públicas que desprezam os avanços científicos, que atacam
universidades e institutos de pesquisa e acreditam que a Covid-19 é uma
fantasia, que a terra é plana e que não há desmatamentos, o que o cidadão comum
pensa? É óbvio que pensará que não tem problema.
Além disso, temos um problema de EDUCACIONAL,
pois nossos professores são pouco valorizados e malformados. Não basta mudar os
hábitos agora. Faz-se necessário um esforço contínuo e isto só é possível no
ambiente escolar. Hoje, sofremos com baixa adesão às campanhas de vacinação e o
sarampo tem uma letalidade muito maior que a Covid-19. Ainda há tempo, mas a
sociedade precisa estar unida, apoiando investimento em CIÊNCIA E EDUCAÇÃO e valorizar CIENTISTAS e PROFESSORES, que devem dialogar mais a sociedade.
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também: a página SapoCiência no Facebook (https://www.facebook.com/sapociencia/) e Instagram e o site do Laboratório de Herpetologia e Comportamento Anima (LHCAN) (https://www.lhcan.com/)

Texto: Rogério Pereira Bastos
Laboratório de Herpetologia e Comportamento Animal
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás
Contato: rogerioiscinax@gmail.com
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