Você já caminhou, à noite, próximo de
brejos e lagoas e ouviu os coaxos (vocalizações ou cantos) dos sapos? Talvez sim, talvez, não! Mas saiba
que nestes locais, centenas de indivíduos de espécies diferentes se agregam e
realizam uma sinfonia, com cada espécie coaxando de forma própria. São os
machos vocalizando (coaxando) para atrair suas fêmeas. Não é uma tarefa fácil.
Afinal, o macho tem que vencer a competição com outros machos e, até mesmo, não
virar comida!
Para se acasalar (formar um par com a
fêmea), um macho pode utilizar de quatro estratégias: (a) macho cantor, (b)
macho deslocador, (c) macho satélite e (d) procura ativa. A estratégia mais
difundida é a do macho cantor. Nesta estratégia, o macho fica vocalizando para
atrair as fêmeas, que poderão escolhê-lo (ou não). No filme, é mostrado um
macho de Dendropsophus cruzi (Pombal e Bastos, 1998) vocalizando.
Observe o saco vocal, que funciona como uma caixa de som. Além disso, veja que ele fica se movimentando na folha para que seu canto seja bem
propagado no ambiente.
A segunda estratégia, a do macho satélite,
é aquela que um macho fica próximo (sem vocalizar) de um macho cantor.
Literalmente, o macho que não vocaliza é um satélite, que fica orbitando o
macho cantor! Na foto são mostrados dois machos da perereca-de-pijama, Boana
goiana (Lutz, 1968). Observe que o macho satélite está em postura mais abaixada
e o cantor está com o saco vocal inflado. O macho satélite pode interceptar uma
fêmea que está sendo atraída pelas vocalizações do outro macho ou espera que o
macho cantor, consiga um amplexo. Assim, após a saída do cantor, o satélite
começa a vocalizar. Para maiores informações, leiam o artigo de Célio Haddad, Satellite
Behavior in the
Neotropical Treefrog Hyla
minuta, publicado
em 1987, na revista Journal of Herpetology, volume 25, páginas 226 a 229p.
E, por último, temos a estratégia do macho
que faz procura ativa. Nesta estratégia, o macho procura ativamente por uma
fêmea. Na foto, podemos ver as ondas que se formam na água, quando o animal
nada. Essas quatro estratégias não são, mutualmente, exclusivas. Um macho pode realizar
a estratégia de macho cantor por um tempo, depois pode passar para estratégia
de procura ativa. Ou, em uma noite, o macho pode estar vocalizando e em outra
ser um macho satélite. Leiam o artigo de Lincoln Fairchild: Male reproductive
tactics in an explosive breeding toad population, publicado na revista
científica American Zoologist, volume 24, páginas 407 a 418.
Em todas as estratégias, os machos
enfrentam riscos. Um macho cantor pode atrair um predador ou se engajar em uma
competição acústica com um rival, isto é: para evitar que sua vocalização seja
abafada pelo rival, o macho pode aumentar a taxa de emissão (cantar mais) ou
vocalizar com uma intensidade sonora maior. O macho de procura ativa, pode
encontrar e amplectar macho de outra espécie [na foto de cima é apresentado um casal de
Boana faber (Wied-Neuwied, 1821), sobre o qual, há um macho de Rhinella
crucifer (Wied-Neuwied, 1821)]. O macho de procura ativa, por realizar
movimentos na água, pode ser predado por animais aquáticos, como mostrado na
foto de baixo. Recomendo este artigo, autorado por mim e Célio Haddad: Predation on the toad Bufo crucifer during
reproduction (Anura: Bufonidae), publicado na revista científica
Amphibia-Reptilia, em 1997, volume 18, páginas 295 a 298.
Reprodução é uma das etapas mais importantes
da vida de qualquer animal. Para chegar nesta etapa, foi necessário alimentar,
fugir, crescer, evitar ser predador. Não foi fácil! E quando o animal chega na época
da reprodução, outros desafios aparecem! Desafios e perigos tanto para machos
como para as fêmeas. Espero que tenham gostado. Ainda há muito o que pesquisar
sobre as espécies de anfíbios, principalmente, as que ocorrem, no Brasil!
Texto: Rogério Pereira Bastos
Laboratório de Herpetologia e Comportamento Animal
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás
Contato: rogerioiscinax@gmail.com
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