Certamente você já ouviu falar
bastante sobre as cantorias e as histórias de sapos, rãs e pererecas. Mas, você
já sabia que esses animais estão bastante ameaçados de extinção? Isso mesmo! Há
declínios populacionais registrados para diversas espécies de anfíbios ao redor
do mundo e, em virtudes desses declínios, os anfíbios representam o grupo de
vertebrado mais ameaçado do planeta (veja as fotos com espécies brasileiras
ameaçadas de extinção). Os fatores que ameaçam esses animais são os mais
diversos, incluindo perda e fragmentação de habitat, poluição, doenças
infecciosas, espécies invasoras e etc. Nesse cenário, a conclusão mais óbvia em
que chegamos é: nós devemos, urgentemente, implementar ações que visem à
conservação desses animais!
A criação e o manejo de áreas protegidas (APs,
que podem ser chamadas de Unidades de Conservação) representam a principal
estratégia para conservação da biodiversidade, incluindo os anfíbios. No
Brasil, essas áreas são criadas e manejadas de acordo com o Sistema Nacional de
Unidade de Conservação (SNUC – Lei 9.985/2000). Até recentemente, o Brasil foi
líder mundial na criação de APs e,
atualmente, o país conta com mais de dois mil áreas que se distribuem ao longo
de seus vários biomas (p.ex.: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica,
Pampa e Pantanal).
Apesar do número expressivo de APs que há
no Brasil, eis que surge uma importante pergunta: nós conhecemos a diversidade
de espécies que há nessas áreas? Essa é uma pergunta complexa e de difícil
resposta, pois ela dependente que tais áreas tenham sido satisfatoriamente
amostradas no passado. Foi baseado nessa pergunta que eu e meus colaboradores conduzimos
e publicamos um estudo científico em uma prestigiada revista de Herpetologia (https://www.thebhs.org/publications/the-herpetological-journal/volume-30-number-1-january-2020/2025-05-anuran-species-in-brazil-s-protected-areas-network).
Neste estudo nós objetivamos a construção de um banco de dados sobre
listas/inventários de espécie de anuros em APs do Brasil. Especificamente, nós realizamos
uma intensa buscar na literatura por artigos científicos que apresentaram tais
listas para tentar responder as seguintes perguntas: 1) quantas e quais
espécies de anuros ocorrem em APs? 2) todos os biomas brasileiros são
igualmente amostrados? 3) O número de espécies de anuros é influenciado pelo
tamanho da AP?
Nós encontramos 115 artigos científicos
que apresentaram listas de espécies de anuros em APs do Brasil. Para cada um
desses artigos foram extraídas as seguintes informações: número de espécies de
anuros, o nome das espécies registradas, o nome da AP, o bioma de ocorrência da
AP, a data em que o estudo foi conduzido; e o tamanho da AP. No geral, os
artigos encontrados consideraram 101 áreas protegidas brasileiras, os quais
registraram a ocorrência de 605 espécies de anuros. Na figura, o quadrado
mostra um detalhe de áreas de proteção na Mata Atlântica.
No Brasil, a lista de espécie de anuros em
áreas protegidas mais antiga foi publicada em 1988, para a Estação Ecológica do
Taim (no Rio Grande do Sul). Desde então, o número de estudos cresceu
consideravelmente ao longo do tempo (veja figura abaixo).
Porém,
apesar desse incremento, nós observamos que o número de estudos difere entre os
biomas, uma vez que a Mata Atlântica possui o maior número de estudos, enquanto
o pantanal é o bioma menos estudado. As áreas protegidas compreendidas em nosso
banco de dados possuem diferentes tamanhos, variando de 45,2 a 834.245,00
hectares (veja tabela abaixo) Apesar dessa variação, nós não encontramos
qualquer influência do tamanho da área protegida sobre o número de espécies de
anuros.
Informações
científicas são cruciais para o adequado manejo das áreas protegidas. Por isso,
os resultados que nós apresentamos no referido estudo são úteis para subsidiar
ações de manejo tanto para as espécies de anuros quanto para as áreas
protegidas do Brasil. Ainda, nosso resultado indica que há uma lacuna de
conhecimento, uma vez que as amostragens ocorreram em menos de 5% do total de
APs existentes no Brasil. Das 1065 espécies de anuros que ocorrem no Brasil,
nós observamos que apenas 605 constam em nosso banco de dados, ou seja, aproximadamente
60% dos anuros do Brasil ocorrem ao menos em uma área protegida brasileira.
Outro resultado importante é que as APs
são diferentemente amostradas entre os biomas brasileiros. Isso implica que a
anurofauna das APs em alguns biomas (p.ex. Pantanal) é pobremente conhecida e
isso pode comprometer as ações de conservação destes animais. Nosso estudo
evidencia a necessidade da realização de mais amostragens em áreas protegidas
do Brasil, portanto, sugerimos que agências de fomento possam adequadamente
financiar estudos desta natureza.
Texto: Alessandro Ribeiro de Morais
Laboratório de Biologia Animal
Instituto Federal Goiano, Rio Verde, Goiás
Contato: alessandro.morais@ifgoiano.edu.br
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